Monday, October 15, 2007

Santa Tereza D'Ávila e Maria

Não entendo por que ninguém fala em Maria... De todas as resenhas que li do “Tropa de Elite”, uma sequer, toca no seu nominho que, nela, não é tão santo. Maria lê Foucault – quando o professor manda - e, o filme não mostra, mas adornando sua estante estão Simone de Beauvoir, Leonardo Boff e Marx. Não tem tido muito tempo pra eles, afinal os artigos de “Nova” sobre “Como fazer seu homem dar o prazer que você merece” e outros bem parecidos, são sua prioridade, embora ela negue.
Ao lado estão os cd´s. A coleção “vozes do mundo”, Enya, Bob Marley e Manu Chau. Atrás deles e – curiosamente - próximo ao Bhagavad-Gita, o potinho de erva. Na parede, sob uma faixa do Greenpeace, o retrato de Che, rodeado dos bichinhos de pelúcia da Disney, fica um pouco mais patético. O guarda-roupa, hippie de boutique. As mensalidades do seu curso de Direito, em uma das melhores Universidades do Rio de Janeiro, são pagas com o dinheiro capitalista sujo do pai, que também subsidia sua rebeldia revolucionária festiva.
Deve-se desconfiar, até, de seu amor pelo aspirante Matias. Afinal, os grupos de “ações afirmativas” cultivam com carinho a mitologia jornalística que lhes dá o pão de cada dia: do negro oprimido por nossa sociedade racista. Assim, nada melhor para Maria que namorar um afro-brasileiro-negão para demonstrar sua solidariedade inter-racial, não é mesmo?
Maria, claro, não quer ser apenas mais um rostinho bonito. Quer se olhar no espelho e ver uma alma bela, mesmo o corpo vestindo – talvez envergonhadamente – um Daslu. Então, cheia de boas intenções, vai trabalhar pra uma Ong em pleno morro, aceitando a chefia do tráfico e financiado com seu tempo e nariz a moral enviesada do esquerdismo bandido. Roubar, traficar, matar? “Pobre pode tudo” em nome da “justiça social”. Maria quis esquecer, propositalmente, que honestidade e vergonha na cara independem de classe social.
Muitas Marias, burguesas néscias como todas Marias, foram assistir ao “Tropa de Elite”. Esquizofrênicas, não se viram no espelho. A amiga de Maria, depois de puxar um baseado, tem a trepadinha – na sala da Ong – interrompida por um marginal que vai matá-la. Bem merecido! Poucas vezes foi tão verdadeiro, quanto no filme, que “a estrada para o inferno está pavimentada de boas intenções”. E muita burrice!